O que é o trail?

Trail: mais do que correr na natureza — é viver o caminho
Já te perguntaste o que leva tantas pessoas a trocar o alcatrão pelas pedras soltas, as subidas pelas vistas e o suor pela sensação de conquista? Bem-vindo ao mundo do trail. Ou melhor, do trail running — essa espécie de corrida com alma, feita por trilhos, florestas, encostas e montanhas, onde cada passo conta uma história diferente. Mas espera, não penses que é apenas “ir correr no mato”. É muito mais do que isso.
Mas afinal… o que é o trail?
Vamos simplificar. O trail é uma corrida pedestre feita, maioritariamente, em caminhos não pavimentados. É o oposto da monotonia do asfalto: montes, vales, curvas apertadas, pedras traiçoeiras, barro, raízes, riachos — tudo em percursos previamente marcados, claro. A adrenalina vem não só da corrida, mas da incerteza do terreno e do contacto cru com a natureza.
Chamam-lhe trail running, mas pode ter muitos rostos: desde provas curtas e rápidas em trilhos suaves, até maratonas em serras que desafiam até os mais experientes. E acreditem, mesmo quando o corpo diz “chega”, o coração insiste em continuar.
Quantos quilómetros tem um trail? Depende — e muito
O trail não é uma corrida com uma receita fixa. Há provas para quase todos os gostos e estados de forma. A ATRP — Associação de Trail Running de Portugal — ajuda a organizar tudo em categorias:
- Trail Curto: até 25 km
- Trail Longo: entre 26 km e 49 km
- Trail Ultra: 50 km ou mais
E dentro dos ultras, a ITRA — International Trail Running Association — ainda diferencia em Ultra Medium, Ultra Long e até as temidas provas de mais de 100 milhas. Sim, leste bem. 160 km ou mais. Pode parecer loucura, mas para alguns é o paraíso — especialmente se for com vista para a serra da Estrela ou os trilhos do Gerês.
Portugal: um paraíso para o trail (e nem sempre nos damos conta)
Sabias que há provas de trail em praticamente todos os distritos de Portugal? Desde os trilhos verdejantes do Norte, à costa recortada do Oeste ou aos terrenos áridos do Alentejo, não faltam locais para te perderes — no bom sentido.
Aliás, uma das belezas do trail é que te permite descobrir o país por caminhos onde o carro não chega. Correr no Pico Ruivo, subir ao ponto mais alto da Serra de São Mamede ou atravessar as falésias da Costa Vicentina… é turismo, é desporto e é, acima de tudo, viver com intensidade.
Sim, há formas de saber se um trail é difícil (e convém saber)
Nem todos os trails são feitos para todos os corredores. E tudo bem — o importante é encontrar aquele que se ajusta ao teu nível atual. Como?
A dificuldade de uma prova mede-se sobretudo por dois fatores: a distância (claro) e o desnível. E não estamos a falar apenas de “é a subir ou a descer”, mas sim de desnível positivo (o quanto vais subir), desnível negativo (o quanto vais descer) e o desnível acumulado (a soma dos dois).
Mais quilómetros + mais desnível = mais difícil. Mas atenção: às vezes, uma prova de 15 km com muito desnível pode ser mais dura do que um trail plano de 25 km. Não é só correr — é sobreviver aos altos e baixos, literalmente.
Equipamento: não é só calçar ténis e correr
“Ah, é só uma corridinha no campo.” Pois… não é bem assim. O trail exige equipamento próprio — e não, não é conversa de vendedor. A começar pelos ténis: têm de ter tração, proteção lateral e aderência para terrenos soltos. Levar ténis de estrada para a serra é pedir para escorregar na primeira pedra molhada.
Depois há o resto: mochila de hidratação, frontal para provas noturnas, corta-vento, manta térmica (sim, até no verão), apito, telemóvel e até copo próprio — muitas provas já não dão copos descartáveis, o que é ótimo para o ambiente.
Vale a pena consultar o regulamento de cada prova, porque a lista de material obrigatório muda. Mas uma coisa é certa: no trail, mais vale prevenir do que passar frio a 1200 metros de altitude sem casaco.
Treinar para trail: não basta correr em linha reta
Se vens da estrada, prepara-te: o treino para trail é um bicho diferente. Não é só correr — é subir, descer, equilibrar, desviar, adaptar o ritmo e resistir à tentação de parar quando a subida parece não acabar.
O segredo está num plano equilibrado. Continuas a treinar a resistência como fazes para uma meia maratona, por exemplo, mas acrescentas treinos específicos de desnível, força nas pernas, técnica de descida (importante!) e até treinos de terreno técnico. Isso sem esquecer o fortalecimento muscular e a mobilidade. Lembra-te: as descidas são lindas… mas exigem pernas preparadas para absorver o impacto.
Se não sabes por onde começar, vale a pena procurar ajuda profissional. Há treinadores certificados que te ajudam a criar um plano de acordo com os teus objetivos e com o teu estilo de vida. Porque vamos ser honestos: nem todos temos tempo para treinar 5 vezes por semana com filhos, trabalho e trânsito pelo meio.
E a segurança? Está tudo controlado?
Sim. As provas de trail são organizadas com rigor, e cada vez mais promotores seguem as diretrizes da ATRP e da ITRA. Os percursos estão bem marcados, há postos de abastecimento (com fruta, água, isotónicos e às vezes até gomas!) e equipas de apoio para qualquer eventualidade.
Claro que, no trail, és sempre tu contra a montanha. Por isso, responsabilidade acima de tudo: respeita o ritmo, conhece os teus limites, cumpre as regras. E se não estás em forma — ou se te dói “qualquer coisinha” — fica fora dessa prova. O trilho estará lá no ano seguinte, garantido.
Por que tanta gente se apaixona pelo trail?
Porque o trail não é só competição. É uma forma de estar. É o companheirismo de quem partilha barras energéticas no alto da serra. É a conversa entre desconhecidos ao quilómetro 18. É o silêncio de uma subida dura, só quebrado pelo som do coração a bater e do vento a passar.
É o momento em que chegas ao topo, olhas em redor, e percebes que há mais ali do que uma meta. Há um sentido. Uma liberdade crua. Uma forma de voltar a algo que andávamos a esquecer: o contacto com o essencial.
Queres saber mais? Então vai à fonte
Se este artigo te deixou curioso, então temos boas notícias. Podes encontrar mais informações técnicas, calendários de provas e dicas valiosas nos seguintes sítios:
- ITRA — International Trail Running Association
- Associação de Trail Running de Portugal (ATRP)
Explora. Lê. Pergunta. Mas acima de tudo — experimenta. Vai para o monte, caminha num trilho, ouve os teus passos, sente o cheiro da terra molhada. Quem sabe, o bicho do trail não te morde também?
Porque correr é bom… mas correr onde só chegam os mais teimosos, é ainda melhor.